segunda-feira, 9 de abril de 2012

Quanto vale um professor?


PAULO CAMINHA (*)

Jornalista e Escritor

A escolinha do professor Raimundo. Apenas uma diversão? Apenas o surtir no telespectador o efeito do riso? É isto e bem mais do que isto: uma sátira às dificuldades de vida que enfrenta o professor neste país de extremas e desnorteantes desigualdades. Com efeito, um símbolo artístico. Que põe a descoberto uma realidade vergonhosa. Vergonhosa? Na verdade, uma feroz desfeita a esse sujeito social capaz de transformar o mundo... O professor.

É despreparada a maioria dos nossos professores? Bem; não vamos discutir a coisa sob aspecto, até porque, façamos-lhes justiça, não lhes cabe a culpa. Nesse particular, pois, fiquemos só até aí. Somente uma coisa. Se o professor não ganha sequer para atender às despesas de casa, o que vale dizer, não pode comprar livros, como admitir, ou exigir-lhe o preparo à altura do seu mister? É pedir demais.

Vamos, aqui, ao que interessa. Quantas vezes um deputado ganha mais do que um professor? Hein? Nem é bom falar. E agora lhe pergunto: Quem é mais útil à sociedade? Também não é preciso responder, de tão evidente. De tão aos olhos. Eu disse útil? Acho que coloquei mal o termo, na medida em que deputado não serve para coisa nenhuma... Além do que já se sabe. Sem esforço nenhum.

Não quero nem deputado; vamos mesmo de vereador. Em qualquer lugar deste país, um vereador ganha mais do que um professor, e para não fazer nada, como os seus maiores na hierarquia legislativa. E tanto é assim, e por isso, que a vereança se tornou, como é evidente, o emprego mais cobiçado nos sítios municipais. Com a vantagem de não bater um prego numa barra de sabão, como vulgarmente se diz.

Mas, talvez se pergunte: Onde está o dinheiro para se pagar ao professor o salário digno? Muito simples. E até demais. Claro que está no custo do legislativo, como um todo, no bolso das classes do prestígio, afinal de contas na corrupção na gestão da fazenda pública, sem uma jaculatória de penitência. O dinheiro existe, só que não chega para o bico do professor. Só um reparo - quem manda votar nessa gente?

E ainda se fala em melhora da educação neste país. Como, se o professor ganha vergonhosamente menos que um parasita do funcionalismo de câmara municipal? Direi mais: no Japão, como exemplo, o professor é considerado, e a tal ponto de ser visto, ou tratado, com enorme respeito pela sociedade, onde quer que se apresente. É o sujeito social da cultura. Em suma é isto: a escolinha do professor Raimundo é a fiel representação dessa classe... No Brasil.

(*) Sobre o Autor - Paulo Caminha é jornalista e Doutor em Jornalismo pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). Jornalista profissional desde 1975, já trabalhou em praticamente todos os principais veículos da imprensa brasileira (jornais, revistas e redes de TV), nas funções de repórter. Atualmente, é jornalista correspondente e professor universitário.

E-mail: paulo_caminha1@yahoo.com.br

http://paulocaminha1.blogspot.com.br/2012/04/quanto-vale-um-professor_6898.html

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